sexta-feira, 25 de março de 2011



Em junho do ano de 2008 lancemos o jornal Axé em Notícia  numa iniciativa do Ilé Asé Dajó Ìyá Omí Sàbá (Casa da força/energia e justiça da mãe das águas Yemanjá Sàbá), que é uma casa de cultos afro brasileiros (candomblé) fundada em 27 de setembro do ano de 1992 aqui na cidade de Areia Branca/RN. Fomos pioneiros em nível de estado do RN no tocante a essa questão de um terreiro de candomblé publicar um diário e entrar na mídia expressa. Nosso objetivo era propagar a nossa religiosidade, fazer um resgate das nossas tradições culturais, homenagear ícones da religião de matriz africana que vivia no anonimato, lutar pela preservação das velhas tradições deixadas pelos nossos ancestrais, além de prestar serviços de utilidade publica a nossa querida Areia Branca. Estamos postando no blog algumas matérias que foram publicadas em anos anteriores para que o leitor possa ter acesso ao nosso trabalho.

PERFIL: Homenagem a yalorixá Maria Pinheiro

                        Em 27 de setembro do ano de 1992, Maria Pinheiro, aos 65 anos de idade decidiu transformar a sua casa residencial em uma casa de cultos religiosos. Ela já vinha a alguns anos ligada à religião de matriz africana, tendo ocupado o cargo de mãe pequena (segundo cargo dentro da hierarquia de um terreiro) numa das casas de culto mais tradicionais da cidade: a casa que pertencera á yalorixá Francisca Andrade de Souza (conhecida como mãe Tiquinha d’Omolu – in memorian), exercendo esse cargo e, ao se desligar do aludido terreiro passou a dar assistência espiritual em sua moradia onde atendia pessoas que davam credibilidade aos seus serviços incorpóreos.
                           O tempo foi passando e Mãe Maria continuou com seu ofício religioso de dar atendimento àqueles que buscavam ajuda espiritual através da sua pessoa, contudo, o espaço que dispunha para realizar tais ritos era muito pequeno e sem cômodo, surgindo daí a idéia de ampliar esse espaço e formar uma espécie de agregação espiritualista e partindo desse princípio nasceu a Irmandade do Reino de Yemanjá Sòbá (Ilé Iyá Olokun Asé Ìyá Sobá), cuja prática ritualística era o culto a nação nagô, herdado do babalorixá Pai Nino da Mustardinha.
                         Nos biênios de 2002 á 2004 adaptou sua casa á nação angola, já que o culto ao nagô aqui em Areia Branca e em nível de estado do Rio Grande do Norte estava em fase de extinção e, para dar seguimento a casa dentro de uma doutrina candomblecista, amoldou seu cerimonial a nação angola através da Yalorixá Lúcia Edjan de Lima Pipoca (Lúcia de Óyá Karasí d’Mãn) vinda da cidade do Guarujá/SP. Mas a convivência com essa sacerdotisa durou pouco por razões que prefiro omitir por motivos que não vêem ao caso,  havendo a quebra de vínculos com a mesma, bem como abrindo mão da doutrina espiritualista advinda dela. Em julho de 2004 encontrou por meio do babalorixá Melquisedec da Rocha (Melquisedec t’Sangó) a pessoa certa para cuidar da sua ori (cabeça espiritual), sendo este, desde então, o seu zelador espiritual e orientador, sacerdote mor da sua casa de axé, o Ilé Asé Dajó Ìyá Omí Sàbá, adaptado a nação ketu raiz do Asé Gantois.
                       Maria Pinheiro é responsável pela vinda do culto aos orixás de candomblé, bem como a introdução da nação ketu raiz Gantois aqui na cidade de Areia Branca, quando abriu as portas da sua casa de axé para dar entrada a esse rito sagrado advindo do solo fértil da nossa mãe África para fertilizar o solo salgado dessa salinésia que é Areia Branca.
                     Mulher forte que sabe o que quer e luta pelos seus ideais. Mulher perseverante que acredita no que faz e faz o melhor que pode em prol da sua religião e da cultura afro brasileira.
                    Hoje ao longo dos seus 83 anos de idade Mãe Maria de Yemanjá Sàbá ainda encontra forças para lutar pela preservação do culto espiritualista na missão que Deus lhe confou.
Publicada na primeira edição do Jornal Axé em Noticia em junho/2008.
Por Noamã Jagun

PERFIL: Homenagem a yalorixá Francisca Edvirgens



                 Falar a respeito de Dona Edvirgens é fazer uma viagem no tempo; é fazer um resgate da historia da religião espiritualista na cidade de Areia Branca e reportar a um passado cheio de muita luta. Ela na verdade é o arquivo vivo dessa historia e sua historia se mistura á historia de sua religião e forma uma linda historia de amor. 
                       Nós que fazemos o Informativo Jornal Axé em Notícia, sentimo-nos honrados por prestar tão justa homenagem a essa verdadeira “Lenda Viva” que é a Yalorixá Francisca Edvirgens de Yansãn. 
                       Quem nesta cidade nunca ouviu falar dos seus feitos? Da sua luta em prol da religião? Dos seus 68 anos de contato direto com o culto espiritualista? De todos os serviços que ela tem prestado a nossa cidade? 
                   Francisca Edvirgens com 16 anos de idade, em plena adolescência, começou a dar os primeiros passos na vida religiosa. Ela passou por muitas dificuldades, mas superou tudo e no meio a tantos obstáculos que ela encontrou no seu caminho, nada a impediu e seguir em frente na busca pelo seu objetivo.  E foi numa dessas incessantes buscas que ela conseguiu se iniciar nos caminhos da religião que professava através do conceituado e famoso pai de santo “Padrinho Zé Bruno” na cidade de Nazaré/Ma e daí continuou cumprindo com suas obrigações espirituais. 
                  Uma das mais belas imagens que trago guardado comigo é Dona Edvirgens acostada pela entidade/mestre Zé Pelintra, cantando e dançando coco de embolada. É uma maravilha! 
                  Ela é a grande matrona da religião espiritualista de umbanda em nossa cidade e, foi do ventre imaterial dessa venerada mãe que foram gerados grande parte do povo de santo e sacerdotes da nossa tão querida Areia Branca.
              Assim como seu orixá Yansãn (palavra que significa em língua portuguesa “Mãe dos Nove Céus”), dona Edvirgens tem filhos de santo espalhados por toda parte da cidade, pelo estado e outras partes do Brasil. Seu terreiro é o mais antigo da cidade (O Tradicional Terreiro de Santa Bárbara), que conta com mais de 40 anos de funcionamento. 
  O Terreiro de Santa Bárbara se                                                                                                                                                  expandiu, formando outros terreiros e a doutrina de Dona Edvirgens serve de bases para muitos que a admira e dão credibilidade á mesma.   Sábia                                                                                                                                                                          Sábia mulher de riso fácil e pulso forte, que tem dirigido sua casa durante quase meio século com competência e dignidade.   
       Salve! Oh, grande dama da sociedade espiritualista do meu lugar!     
Publicada na primeira edição do Jornal Axé em Noticia em julho/2008.                                         
Por Noamã Jagun

PERFIL: Homenagem ao babalorixá José Jaime Rolim



                       É gratificante homenagear uma pessoa que tanto contribuiu para formação quanto para a divulgação da nossa história da qual é protagonista; Um dos maiores sacerdotes do culto á Umbanda da nossa terra; professor, escritor, historiador. Um homem de memória invejável que descreve a Areia Branca dos tempos de outrora e sabe o nome de cada rua, de cada praça, de cada monumento, como também conhece cada morador da época com seus nomes e alcunhas.  Um exímio conhecedor de causos que aconteceram na salinésia; homem que sempre esteve à frente do seu tempo; de longa visão; de inteligência privilegiada; é esse o perfil do homenageado do mês o pai de santo José Jaime Rolim.  Zé Jaime como é conhecido por todos, iniciou-se aos 16 anos de idade nos caminhos da espiritualidade em tempos que pra ser umbandista era preciso ter realmente vocação e coragem para enfrentar as duras doutrinas disciplinarias que eram impostas pela religião aos seus adeptos. Mas ele não se limitou apenas em seguir os penosos preceitos religiosos que lhe foram impingidos, por ter uma visão futurista sonhou em galgar novos horizontes em busca de respostas para suas indagações; e foi buscando respostas que ele tirou suas dúvidas e trouxe propostas para a nossa cidade. Quando viajou para a cidade do Natal com objetivo de estudar, lá conheceu uma nova realidade sobre a religião tendo acesso ao que melhor existia no meio umbandista daquela época.  Zé Jaime foi iniciado espiritualmente com o Pai de Santo Luiz de Cordeiro e Pedro Medeiros de Souza – Pedrinho professor (in-memórian). Filho de Xangô com Oxum orixás guardiões da sua cabeça, sua filiação espiritual.  Estudou no Colégio Isabel Gondin em 1958 em Natal onde fez o curso básico de contabilidade. Cursou ciências físicas, químicas e biológicas na antiga Faculdade de Filosofia também em Natal. Em Areia Branca concorreu a 6 mandatos eletivos de 1962 á 1982 obtendo expressa votação durante esses pleitos eleitorais. Foi presidente da câmara de vereadores por 2 vezes e foi prefeito interino no período de 11 de agosto á 10 de setembro do ano de 1987. 
                    Foi diretor da extinta Escola Técnica de Comércio - Centro Educacional Desembargador Silvério Soares – E.E. Cônego Ismar Fernandes – E.M. Vingt Rosado – E.M. Pereira Carneiro. 
                    Fundou seu terreiro em 1969, o Centro Espiritualista de Umbanda Pai José de Aruanda onde até os dias de hoje continua cumprindo com a missão espiritual que Deus lhe outorgou. Quando o redator deste jornal perguntou a Zé Jaime o que significava para o mesmo ser um umbandista, ele humildemente respondeu: “É cumprir uma missão espiritual a qual devemos ajudar os nossos irmãos materiais e espirituais”.
                 Zé Jaime já completou 54 anos de iniciação nos caminhos da umbanda. O ritual praticado na sua casa se distingue das demais por ser uma umbanda esotérica e a única na cidade que contem elementos e praticas do Terecô, (denominação dada à religião afro-brasileira tradicional de Codó no Maranhão, derivada do tambor-de-mina semelhante à umbanda).
Homenagem feita na primeira edição do Jornal Axé em Noticia em agosto/2008
Por Noamã Jagun

PERFIL: Homenagem póstuma a yalorixá Francisca Andrade de Souza



                    Francisca Andrade de Souza ou Mãe Tiquinha, como era conhecida por todos, foi uma das importantes sacerdotisas da religião de matriz africana em Areia Branca. Sua casa era freqüentada por pessoas de todas as partes do estado que vinham em busca de ajuda espiritual. Alegre, acolhedora, gentil, ela recebia todos de braços abertos, sempre com um clássico sorriso nos lábios. 
                   Mãe Tiquinha possuía o arquétipo das mulheres fortes que luta pelo que quer e que não foge dos combates. Venerada pelos seus filhos de santo e por todos que a conheciam.
              Proclamada como grande yalorixá da nossa tão querida terrinha, ela foi responsável juntamente com o seu esposo José Pedro (in memorian) por trazer o culto nagô para a salinésia, desta feita quando se iniciaram na nação dos Egbá, através do babalorixá Heleno Medeiros de França mais conhecido como Pai Nino da Mustardinha (in-memorian). 
             Ela sempre carregou a bandeira da sua religião com o orgulho de ser uma sacerdotisa do culto ao orixá. Ousada, aberta as mudanças e as convenções, apesar do pouco grau de escolaridade que tinha, mas detentora de um nível de intelectualidade excepcional. Uma mulher que tinha o coração maior que o próprio corpo, caridosa, incapaz de negar ajuda a quem a procurava.  Mãe e amiga de todos os seus filhos, mas também austera quando estes procuravam fugir da doutrina aplicada por ela. Filha de Omolu com Yansãn e Mestra no culto da jurema sagrada.  
               Sua vida foi interrompida por um trágico acidente automobilístico ocorrido no dia 9 de setembro de 1992. Foi um dia nefasto na história de Areia Branca. A cidade foi surpreendida com a notícia do acidente e morte da grande Iyá que partiu deixando saudades aos seus familiares, seus inúmeros filhos de santo e amigos. Ela se foi, mas deixou um expressivo espólio religioso, além memoráveis lembranças da sua passagem aqui pela terra. Sua missão acabou aqui no mundo das formas físicas, mas, continuou no mundo da luz onde brilhará e iluminará a todos os filhos que aqui deixou na orfandade espiritual. 
                 Sua casa não teve continuidade porque o seu herdeiro e filho biológico Pedro Neto não se encontrava em condições de assumir tão elevado cargo, por isso abdicou do mesmo, lamentavelmente, fechando as portas da casa. Durante o Asese (ritual fúnebre), foi dado caminho a todos os fundamentos da casa de Mãe Tiquinha, bem como sua família de orixá, com exceção apenas de Omolu que era o orixá dono da sua ori, que não quis caminhar para natureza, mas, sim, queria ser cultuado e ficou sendo criado por um filho da casa que a partir de então passou a zelar pelo mesmo em um cômodo construído em sua residência. Contudo, o orixá passou menos de um ano sob o zelo de Paulo Cesar que, impossibilitado de continuar a prestar culto ao orixá ofereceu-o a casa de Yemojá Sàbá, onde continua até os dias de hoje a ser venerado. 
                    Lamentamos que casa como a de Mãe Tiquinha tivesse sido fechada.  Um tesouro que foi enterrado junto com o cadáver dela, o resultado de todo um trabalho feito ás custas de muito suor, muito sacrifício e muito amor. A sua casa de axé ainda era pra estar em pleno funcionamento ou, pelo menos que tivesse sido transformada num museu onde sua historia pudesse ser contada. 
                Guardo no meu baú de memória a imagem de mãe Tiquinha acostada pela bela, arrebatadora e fascinante Yansãn, num momento de rara beleza e essa imagem levarei para o túmulo quando minha missão acabar aqui na terra.
           “Oh, grande mãe, você partiu me deixando saudades; saudades dos ensinamentos que você nem teve a oportunidade de me oferecer em vida; saudades do convívio que na realidade não tivemos; saudades de tempos que nem existiram de fato, mas que estão bem guardados no meu subconsciente (...)”.  Mãe receba essas honras postumárias, escrita por este humilde redator que lhe pede sua benção!
Homenagem publicada na primeira edição do Jornal Axé em Noticia em setembro/2008
Por Noamã Jagun

PERFIL: Homenagem a yalorixá Francelina Cruz



                       O nome Francelina Ferreira da Cruz cursa por todos os meios da sociedade areia-branquense como uma das suas mais insignes personalidades. Nascida em 1947, filha de Augusto Ferreira da Cruz e Maria Paula da Cruz, Dona Francelina viveu sua infância no bairro denominado Baixa da Maré. Aos 15 anos já começara a lecionar em sua residência (particular), demonstrando vocação para o ofício de professora. Aos 17 anos de idade fora chamada para preencher vaga como professora na Escola Francisco Fausto. Concluiu o curso primário na Escola Conselheiro Brito Guerra e o ginasial na Escola Estadual de Areia Branca, sendo que para fazer o curso secundário teve que se deslocar até a vizinha cidade de Mossoró, pois Areia Branca ainda não tinha porte para abranger tão elevado nível de ensino na época. E foi com o propósito de estudar que ela chegou até a FURRN (hoje UERN), fazendo curso superior no ramo de geografia na antiga Universidade de Mossoró. Em tempos tão difíceis, mas conseguiu superar as dificuldades do dia-a-dia, transformando-as em metas para o seu futuro. 
                          É uma educadora de renome em nossa cidade e responsável pela formação educacional e profissional de muitos areia-branquenses que hoje vêem nela a figura de uma grande mestra. Dona Francelina possui um curriculum vitae dos mais grados e recomendáveis para uma profissional da área de licenciatura de ensino pedagógico em nosso município. Exerceu sua profissão como professora nos seguintes estabelecimentos de ensino: Escola Conselheiro Brito Guerra, Colégio Cônego Ismar F. de Queiroz, Centro Educacional Desembargador Silvério Soares, Escola Nossa Senhora Auxiliadora, supervisora da Escola Técnica de Comércio, além de estender seu trabalho até a vizinha cidade de Grossos onde também desempenhou cargo como educadora.  
                        Não-obstante às suas ocupações profissionais no exercício de suas funções na sua brilhante carreira, ela também, arranjava tempo para se dedicar a sua religião e, como umbandista juramentada que é tem passado sua lição, dentro do catecismo da umbanda, contribuindo, assim, para com a formação religiosa de muitos munícipes. Ela entrou na religião pela dor quando aos 18 anos de idade, por motivos de doença, chegou até a casa do pai de santo Eurico Cabeceira (in memoriam), de onde saiu curada. Esse fato ocorreu em julho de 1965. A partir de então passou a freqüentar o Terreiro de Santa Bárbara (da veterana Dona Edwirgens), ficando lá até o ano de 1979, que por ensejos superiores desligou-se do referido terreiro e se filiou ao Terreiro Guias Unidos (hoje Centro Pai José de Aruanda), junto com os renomados José Jaime e Antonio Cruz, formando uma tríplice aliança religiosa que preponderou até o mês de abril de 1990 quando os laços foram quebrados e, desta feita, regressou ela para ao Terreiro de Santa Bárbara permanecendo lá até os dias de hoje.  
                        Atualmente Dona Francelina está aposentada como profissional, mas em pleno exercício na sua missão como religiosa, tendo comemorado em julho deste 43 anos de ligação direta com a sua religião.  É uma sacerdotisa da religião de matriz africana que muito contribuiu para que o culto a umbanda permanecesse vivo até os dias atuais, resistindo a tanto preconceito e intolerância, advindo de partes avessas ao mesmo. 
                      Nós que fazemos o Jornal Axé em Notícia queremos agradecer a essa grande cidadã pelo duplo serviço que ofertou a nossa cidade: pelos seus ensinamentos pedagógicos destinados a formação educativa e pelos seus ensinamentos no âmbito religioso. 
                     Agradecemos também a Olorun (Deus), por enviar essa filha da Oxum, lhe outorgando tão sublime missão de dividir conosco o seu dom de grande mestra dos ensinamentos da vida. 
                    Que seu nome se perpetue nos anais da historia da nossa cidade.
Publicada na primeira edição do Jornal Axé em Noticia em outubro/2008
Por Noamã Jagun

Contra a Intolerância Religiosa




 O jornal passou a ser a nossa maior forma de expressão e, lamentavelmente, o usamos como arma de defesa quando tivemos que lutar contra o preconceito e discriminação apresentado por parte de um irmão evangélico que assumia uma cadeira na câmara de vereadores aqui da nossa cidade. Nós fizemos uma campanha contra esse cidadão que na época usou de vilipendiou para com objeto sagrado do nosso culto. Ele perdeu a campanha eleitoral/2008, amargando um lugar na suplência.

   

                                   Contra a intolerância religiosa

Caros leitores e irmãos de fé
                       Queremos nesse ato e através desta mídia apresentar uma denuncia contra um pseudo irmão em Cristo o vereador Roberto Gonçalves, que em data de 23 deste mês fez um pronunciamento através dos microfones da rádio local onde usou de preconceito e discriminação a um dos maiores símbolos da maternidade universal a nossa mãe Yemanjá, dizendo que “a sua imagem deveria ser colocada no fundo do quintal das casas dos adeptos da religião umbanda e candomblé e não na praia de Upanema como fora assentada”. É importante salientar que não estamos aqui defendendo a imagem mal esculpida que chegou á nossa cidade, mas o sentido religioso que ela importa. Este irmão (?) assume uma cadeira na Câmara de Vereadores. – Povo de umbanda e candomblé será que esse pseudo irmão merece ser nosso representante? Ele ainda nem aprendeu a conviver com as diferenças religiosas de modo que perguntamos o que faz esse cidadão no meio da sociedade?  Não estamos impondo a nossa religiosidade a ele ou a quem quer que seja, mas queremos ser respeitados como religiosos de matriz africana.
              Tem um provérbio yorubá (de origem africana) que diz: Ni gberú Olorun ni gberú enian que quer dizer: só existe respeito para Deus quando se tem respeito pelas pessoas (que são criaturas de Deus). Esse respeito está faltando por parte desse edil.
              Reside uma partícula divina em cada um de nós que são os nossos orixás. O nosso Deus pessoal regido por um Deus universal. Eis a prova milenar que Deus existe e que criou os orixás: “Oh! Quão maravilhosos são os começos da historia e da doutrina divina da salvação pela fé pessoal, ao nosso Deus pessoal” (Pentateuco de Moisés – bíblia sagrada).
              É hora de pensarmos irmãos (umbandistas e candomblecistas) para escolher a pessoa certa para nos representar perante os órgãos públicos.
Publicado na primeira edição do Jornal Axé em Noticia em junho/2008.
Por Noamã Jagun
  

CRÔNICA: É só pra dar um toque

             O que faz um homem público usar a mídia para criticar e discriminar a religião do povo que o elegeu?  Não seria mais correto esse edil usar os meios de comunicação para falar sobre sua plataforma de governo? Para ser o porta-voz do seu povo? É notória a diferença que existe entre o homem público e o cidadão comum, de modo que o homem público ao sair de sua casa deverá deixar guardado no aconchego do seu lar, as suas preferências, suas opiniões pessoais, suas crenças, etc., pois como político, sua vontade deverá ser espelhada na vontade do povo; seus sonhos deverão ser transformados em metas que vise realizar os anseios do seu eleitorado; sua religião, a política e deverá ter como objeto de culto sagrado os que o elegeram; sua igreja, o seu gabinete de trabalho onde não deverá ajoelhar-se, mas sim, arregaçar as mangas e trabalhar para merecer o voto recebido; sua oração, o seu discurso através do qual se comunicará com seus correligionários e anunciará medidas que venham a priorizar as aspirações dos mesmos; sua bíblia serão seus projetos anunciando melhorias (boas novas) para o seu povo; sua fé tem que ser devotada no povo que o elegeu e que também nele botou fé e, seu Deus, um Deus que não faça acepção de pessoas e que caiba dentro do seu coração e do coração daqueles que lhe devotaram confiança. 
                  Não importa que o aspirante político seja católico, evangélico, espírita, candomblecista, etc., importa sim, que seja uma pessoa de bem, de bom caráter, que seja uma pessoa equilibrada psicologicamente e que sua meta de trabalho vise o bem comum.  
                   É hilário ver-se um edil criticar uma divindade da qual ele não tem o devido conhecimento sobre ela.  Ex: como pode um “político” lançar uma crítica a respeito de um símbolo sagrado como Yemanjá, se ele não é iniciado dentro dos princípios do Candomblé ou Umbanda? Se não tem nenhum conhecimento universitário sobre o tema, Se não é antropólogo, se esse cidadão, sequer sabe algo á respeito dos Egbá ou Abeokutá, onde se originou o culto a grande Mãe das Águas?
               É revoltante, verificar que a sua critica é fundamentada no preconceito, que gera á intolerância e abona a agressão. Cômico é constatar que esse indivíduo, pelo fato de ser “evangélico”, considere-se salvo, apto a morar no reino dos céus e classifique adeptos á outras religiões como merecedores do inferno convencional.  Se for haver um julgamento, mas o fantástico e legendário “Dia de Juízo” ainda não aconteceu, de modo que ninguém poderá julgar-se no paraíso e condenar outros ao mundo subterrâneo dos infernos.  O juiz não é Deus, ou não? 
                 Devo lembrar que a Bíblia diz: “Não julgueis, para que não sejais julgados; porque com o juízo com que julgais, sereis julgados; e com a medida com que tiverdes medido medir-vos-ão também” (Mt. 7;1-2).  Digo mais, que a convivência religiosa é plausível e tem respaldo bíblico: “Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável” (At; 10; 34-35).
               Viver nossa religiosidade é um direito que está expresso na Lei Magna (Constituição) do país e não abrimos mão desse direito. 
               É importante mencionar que na nossa cultura não existe diabo, o diabo pertence ás religiões cristãs. 
               Temos nossa forma específica de adorar a Deus, na existência de um Deus único, onipotente, eterno e in-criado, potência geradora de todo o universo material e espiritual; ponto de partida e de chegada de todas as energias, do alfa e do ômega, principio e fim de todas as coisas.
Publicada na primeira edição do Jornal Axé em Noticia em julho/2008
Por: Noamã Jagun



CRÔNICA:     Carta aberta aos irmãos evangélicos

                                      Areia Branca/RN, 30 de agosto de 2008

  Caros irmãos,

                     A presente epístola tem o caráter primordial de esclarecer a toda a congregação evangélica da cidade de Areia Branca, de que nós que fazemos o Jornal Informativo Axé em Notícia, neste ato, representando também, toda a comunidade espiritualista: Umbanda e Candomblé da urbe,  nada temos contra a referida hierarquia religiosa.
                  É oportuno mencionar que fomos agredidos verbalmente por um “irmão evangélico”, que usou a imprensa para criticar a nossa religião, usando de vilipêndio para com objetos sagrados do nosso culto, todavia, não vamos fazer generalização do episodio, pois entendemo-lo como um caso isolado e que com certeza, não recebeu aval da igreja para que o mesmo se sucedesse.   Sabemos exatamente qual é o papel da igreja e, por conseguinte consideração à mesma não divulgamos o nome da instituição a que o aludido “irmão” pertence. O fato de este irmão ter-nos faltado com o devido respeito, reagindo contra a gente de forma tão gratuita, não significa dizer que toda uma confraria de religiosos tenha que sofrer as conseqüências advindas do mesmo, afinal, ninguém deverá pagar por um crime que não cometeu.  Sempre fomos respeitados por todos os irmãos em Cristo e retribuímos aos mesmos com idêntico teor de reciprocidade.
                    Reconhecemos o prodigioso trabalho que as igrejas evangélicas têm prestado à nossa cidade; quantos jovens e também adultos já foram desviados do caminho das drogas, do alcoolismo e da prostituição, graças ao serviço de assistência e recuperação pela fé, que as igrejas vêm realizando? Além de outros serviços de cunho social que vem sendo feito. O apoio prestado pelo apostolado evangélico é de suma importância para a desenvolução moral e religiosa do cidadão areia-branquense.
                 Como tudo evolve, a augusta ação filantrópica que vocês executam, também irá seguir essa evolução porque o terreno já se acha adubado, pronto para que possam germinar os sêmenes do amor e da procura imutável do desenvolvimento. É no trabalho pela fé, que vocês vêm transformando muitos aventureiros da vida, em bem-aventurados, porque tiveram a oportunidade de conhecer a palavra de Deus e nela creram; bem-aventurados também, são todos vós que tendes Deus em vossos corações; bem-aventurados porque possuem o dom do discernir o pensamento do Senhor; bem-aventurados por ver num excluído uma pessoa de Deus, incluindo-o em vosso meio, e mostrando-lho um caminho que leva ao Pai; bem-aventurados porque é aparelho de transmissão da palavra do Senhor; bem-aventurados por possuir o alimento espiritual da alma, que é a fé e, dividir esse alimento com os que ainda têm fome de vida.
                     Que vocês continuem com o divino ofício de vivenciar ao Senhor e ajudar ao próximo pela fé que lhes alimentam, já que o nosso futuro é apenas uma extensão do que semeamos hoje em nosso plantio da existência.
                    Que a paz de Deus esteja convosco!

                                    Respeitosamente

                            Babalorixá Noamã Jagun

Publicada na primeira edição do Jornal Axé em Noticia em agosto/2008


Crônica: Ponto de Interrogação

                  É difícil ser Umbandista ou Candomblecista, num país tão cheio de preconceito e discriminação como o nosso. O preconceito é um dos piores males que existe no mundo e está inserido em todas as camadas sociais.  Acredito que quase todo mundo já foi vitima de tal moléstia.
               A classe baixa é menoscabada pela classe média que por sua vez sofre segregação da classe alta e assim sucessivamente. Por exemplo: Eu que vos escrevo na qualidade de humilde cidadão que sou, poderei sentir-me discriminado por tomar um chá de cadeira ao tentar ser atendido pelo prefeito da nossa cidade; o prefeito poderá sentir-se em situação semelhante ao se dirigir a governadora do estado; a governadora ter experiência similar ao se agendar com o presidente da república e este também, poderá ingerir um delicioso e requintado chá inglês ao esperar que o todo poderoso presidente norte-americano possa lhe atender. Veja só a escadinha... 
               Imagine caro leitor se a famigerada torre de Babel estivesse sido concluída a sua obra, em que andar estaria morando hoje a nata da alta sociedade? E quem estaria no andar térreo? Quem teria o privilegio de olhar de cima para baixo? E quem serviria de bases para sustentação da torre? O perigo para quem sobe alto demais é a possibilidade de cair de uma demasiada altura...
              Nós Umbandistas e Candomblecistas é que não devemos ter preconceito contra absolutamente nada. É o que reza a nossa religião. Quem discrimina em contrapartida, merece ser discriminado.  Devemos aceitar as pessoas como elas são com suas virtudes e seus defeitos e vê que em cada uma delas reside uma partícula divina.  Entender que por trás do protótipo de cada ser, tem um destino e por trás de cada destino tem um carma.
               A discriminação que o povo de candomblé e umbanda sofrera em conseqüência da declaração feita pelo irmão evangélico, é fato corriqueiro, tristemente banal que acontece todos os dias em alguma parte desse nosso imensurável país.  O que distingue o caso ocorrido aqui dos demais são a forma como tudo se afluiu e principalmente a fonte de onde tudo se originou. Um cidadão comum, na qualidade de pessoa física fazer um comentário leviano a respeito de qualquer assunto, levando-se em consideração o seu estado emotivo, sua sanidade mental, além de outros fatores, é um fato, outro é um político que tem poder emanado e constituído pelo povo, ser intolerante ao ponto de achincalhar com o que esse povo tem de mais importante e sagrado em sua vida que é a sua crença, ferindo assim, o sentimento de toda a massa que é o ingrediente que compõem o prato que lhe é servido todos os dias.  Isso significa cuspir no prato que comeu. E o povo que lhe elegeu, que lhe deu emprego e renda merece esse tipo de tratamento? Com que cara esse cidadão deverá se apresentar ao eleitor quando dele precisar? Deverá ir de cara limpa? Ou com a máscara de uso cotidiano? Deixo o meu ponto de interrogação.
Publicada na primeira edição do Jornal Axé em Notícia em agosto/2008
Por Noamã Jagun


Direito tem quem direito anda

                Só existem maus políticos porque existem maus eleitores e os maus governantes são gerados e abortados na cabina de votação por maus eleitores. Tem dois tipos de eleitores: eleitor que é aquele que tem o direito de eleger e o eleitor cabresto que é o que vota sem independência, por interesse e/ou medo.
              Faça do seu voto uma arma contra os políticos de caráter duvidoso, preconceituosos que não respeitam as tradições do seu povo. Escolha a melhor proposta, a melhor plataforma de governo. O sufrágio é direito político que todo cidadão possui: direito de votar e ser votado.
              Como poderei sonhar com um futuro, se coloquei o futuro da minha cidade nas mãos de um político sem futuro? A política eleitoral é vista por muitos como um meio de vida, como uma profissão muito rentável. O sujeito está desempregado ou não tem disposição para trabalhar, daí se candidata a um cargo eletivo e procura arriscar a sorte, se colar, colou. A vocação fica onde? E a formação? O preparo para lidar com a coisa pública? Quem deverá se apresentar ao povo na condição de candidato é aquele que tem serviços prestados junto à população.
           Votar é exercer a cidadania, é o direito que cada cidadão tem de escolher os seus governantes e o futuro da sua nação. Esse dia 5 de outubro/2008 deverá representar para cada eleitor um dia de vitória ou de derrota: Vitoria para os que escolherem o candidato certo para lhes representar e derrota para os que fizerem a escolha errada. Para os que venderem o seu voto não terá direitos de cobrar de seus governantes uma administração voltada para o bem comum, afinal, esse cidadão vendeu o direito político que tinha e deverá se conformar apenas com o valor que recebeu que é o seu preço e cada qual livremente faz o seu próprio preço e não valerá um centavo a mais que o valor estabelecido.
           Como poderei reivindicar sobre meus direitos se abri mão deles? Direito tem quem direito anda. Quem vende o voto vende sua liberdade, o seu futuro, a sua dignidade. Um voto não tem preço. Votar é acreditar, é apostar, é investir, por isso, vote certo e invista no seu futuro, no futuro da sua família e no futuro da sua cidade. Seja o melhor eleitor elegendo o melhor candidato.
Publicada na primeira edição do Jornal Axé em Notícia em setembro/2008
Por Noamã Jagun

O Pequeno Promissor      

           O maior erro de quem se considera grande é subestimar o pequeno. O grande nasceu pequeno e cresceu e o pequeno muitas vezes cresce em cima das fraquezas dos grandes.  A grandeza do homem não está na sua estatura física, nem no seu poderio financeiro, mas na sua altitude mental. Um dos maiores impérios que possa ter existido sobre a face da terra o temível Império Romano, foi devastado por um povo por eles menosprezado chamado de Bárbaros; a arrogante Babilônia subestimou os Medos e Persas e acabou sob o domínio deles; quem destruiu a Fortaleza de Jericó? Da decantada e sofisticada Bizâncio, maior soberba do Império Bizantino, o que restou dela? A Bíblia relata o clássico duelo entre o pequenino Davi e o gigante Golias quando o pequeno vence o grande numa batalha imortal em tempos bíblicos. 
                No Evangelho de São Marcos o reino de Deus é comparado a um grão de mostarda: “Quando semeada é a menor de todas as sementes sobre a terra; mas, uma vez semeada, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças, e deita grandes ramos a ponto de as aves do céu poder aninhar-se à sua sombra” (Marcos 4:31-32). Comparáveis simbolismos podem ser encontrados no Chandogya Upanishad, Cap. 3.14.2-3, ao descrever a alma individual (atman) que é a mesma Alma do Universo (Brahman): “Esta minha alma que jaz no fundo do meu coração é menor que um grão de arroz ou de cevada, menor que um grão de mostarda, mas é maior que a terra, maior que a região entre a terra e o céu (...), maior ainda que todos esses mundos juntos”. 
                O pequenino Jornal Axé em Notícia (informativo do Ilé Asé Dajó Ìyá Omí Sàbá) surgiu de uma grande idéia trazendo consigo o pioneirismo no gênero em nosso estado e com grado objetivo, cujo mesmo é propagar e prestigiar a religiosidade de um povo, bem como sua cultura e suas tradições, além de apresentar também serviços de utilidade pública à população areia-branquense. Estamos documentando a nossa história para que as futuras gerações possam conhecer a realidade à cerca da nossa crença; que possam compreender a nossa forma de vivenciar a Deus, entendendo Deus não como uma divindade do ontem que passou e/ou do amanhã que há de porvir, mas como uma consciência do hoje; para que certos conceitos errôneos que se apregoam a respeito da religião de matriz africana sejam esclarecidos. 
               Não pretendemos erguer nenhum obelisco em nosso louvor, mas, em honra às nossas divindades e com isso contribuir para com a história do culto ao Candomblé e Umbanda na urbe. Todavia, para os que queiram construir o seu Arco do Triunfo (particular), que o faça, porém, com bases bem estruturadas para depois não correr o risco de o monumento símbolo dos vossos louros cair sobre vossas cabeças.  Deixamos também o lembrete para os que vivem em Castelos de Areia: ele poderá ser banido pela próxima onda e levado para as águas profundas do inconsciente coletivo; Ser diluído nas águas sagradas da nossa Mãe Yemanjá. 
                  Não existe um grande que não tenha sido pequeno, nem um pequeno que não tenha a probabilidade de crescer.  
                Em verdade, vos digo:  grande mesmo é o poder de Olorun (Deus) que há de reinar sobre tudo e sobre todos até a consumação dos séculos. Axé! (amém)
Publicada na primeira edição do Jornal Axé em Notícia mês de outubro/2008
Por Noamã Jagun