sábado, 9 de outubro de 2010

FALANDO SÉRIO: O Legado de Dr. Bruno Filho


 Dr. Bruno está para a história de Areia Branca assim como o Faraó Ramsés II está para a história do antigo Egito. Foi ele o reconstrutor do Reino das Areias Brancas. Reino renascido das cinzas, ou melhor, do lixo, pois foi assim que encontrou a cidade quando assumiu a prefeitura em 1997. Era um reino sem rei, sem coroa e sem dinastia. Seus súditos viviam atônitos sem saber para onde ir, pois caminho não existia. Mas ele enfrentou o desafio de administrar a cidade que ainda se recordava dos tempos prósperos quando se tinha um pouco de tudo aqui. A terra que já tivera de tudo e que já não era mais uma terra prometida. Dr. Bruno começou tirando o lixo das ruas para dar passagem ao progresso que já vinha a caminho e a partir de então a cidade se transformou num verdadeiro canteiro de obras. Resgatou o carnaval, transformando-o num evento de grande porte. Nessa época o carnaval daqui era elitizado e acontecia nos salões nobres do célebre Ivipanim Clube. O povão, por sua vez, assistia ao que se chamava de alta sociedade a entrar no referido clube, fantasiados de ricos e depois iam para suas casas, pois não existia um espaço voltado para o povo de baixa renda. Contentavam-se em assistir ao carnaval do Rio pela TV quando conseguiam sintonizar o sinal de tv, que era de péssima qualidade. O evento carnavalesco criado na administração “sinal verde para o progresso”, conseguiu unir pobres e ricos em um só local onde se canta e dança a mesma música; Onde não existem pobres ou ricos, mas sim, foliões areia-branquenses. Foi feito também, o resgate da tradicional festa de Nossa Senhora dos Navegantes que estava em fase de extinção. Os festejos a Nossa Senhora ganharam proporções gigantescas e ocupa lugar hoje entre as maiores festas de caráter religioso da região Nordeste do Brasil. Nesse tempo quando um funcionário público chegava a qualquer lugar em busca de aquisição de créditos, servia de piada e era até humilhado, pois quem iria abrir créditos pra quem não recebia salário em dia? O salário dos funcionários da prefeitura ficava nas mãos de comerciantes gananciosos (as chamadas castas privilegiadas), que chegou a erguer verdadeiros impérios comerciais ás custas dos salários dos mesmos, que eram coagidos a comprar determinados artigos artificiais para poder trocar por produtos de primeira necessidade e, assim, garantir a alimentação da família. Era o sistema de troca um dos mais antigos do mundo que valia como moeda corrente na cidade. Permutava-se um produto de ordem medicinal por um produto do gênero alimentício. O prefeito mudou todo esse quadro pagando o funcionário em dia e valorizando o salário do mesmo. Foram abertas linhas de créditos para todos. Quando Dr. Bruno assumiu a prefeitura, o setor contava apenas com um ultrapassado computador em pane, mas a rede publica foi toda informatizada. O palacete Municipal cujo imóvel que estava em ruínas, passou por uma reforma dentro dos mais requintados processos de recuperação imobiliária que existia e voltou a assumir sua posição como símbolo da aristocracia, que ostentara em outrora. A educação foi contemplada com inúmeros recursos.  A cidade ficou mais bonita, mais arborizada, asfaltada. O sistema de saúde pública que estava em estado de coma profundo foi despertado e recebeu o que existia de mais moderno na área médico-ambulatorial. Areia Branca se transformou na cidade dos sonhos, com uma economia bem fortalecida e passou a servir de modelo para outras cidades do estado. Recebemos nessa época grandes investimentos por parte da iniciativa privada que, apostando no progresso que era óbvio, se instalou na salinésia com o propósito de investir seu capital de giro e criar dividendo. A essa altura Areia Branca já era proclamada como “Cidade do Futuro”. Todos já podiam sonhar com um futuro promissor.  
       ...E assim, ele criou um reino e nesse reino ele não deixou nenhum tesouro fantástico adornado em ouro ou pedras preciosas para o seu povo, mas deixou algo bem mais valioso e opulento: deixou um legado, construído com o mais autêntico material que dispunha que foi o propósito de construir uma sociedade mais igualitária onde trabalhar pelo bem comum foi a sua meta Um modelo de administração que ficou na memória de todos os areia-branquenses, que Dr. Bruno deixou como espólio para o seu povo, ver-se, hoje, refletido na administração do atual prefeito Manoel Cunha Neto (Souza), que faz trabalho similar e merece o nosso aplauso. O que difere a administração atual da administração executada por Dr. Bruno é que quando este chegou á prefeitura, a cidade estava praticamente apagada do mapa e ele teve que começar da estaca zero.
        Na verdade a história polico-administrativa de Areia Branca se divide em duas partes: antes e depois da administração Dr. Bruno Filho.
Edição do mês de julho/2010
Por Noamã Jagun

PERFIL: Homenagem Póstuma a Isabel Viriço


         Isabel Bezerra Avelino, mais conhecida pelo codinome de Isabel Viriço, foi uma das figuras mais tradicionais da cidade de Areia Branca, fazendo parte do nosso folclore e merecendo destaque na nossa página principal, como uma grande mulher que muito contribuiu para a cultura local. Seu nome é sinônimo de alegria. Ela fez o entretenimento de muitos areia-branquenses por cerca de 40 anos com a sua tradicional casa de show. Quem não se lembra ou nunca ouviu falar do inimitável Forró de Isabel Viriço? Daquela senhora simples, de baixa estatura, fisicamente frágil, mas com a missão de fazer a alegria daqueles que para fugir do intolerável da vida cotidiana, iam a sua casa para se divertir e lá encontravam uma realidade que era suportável.
         ...E o forró seguia noite adentro com Expedito Sanfoneiro acunhando no compasso da sua sanfona de ouro acompanhado pelos seus colegas Dinda, Zé da Batera, Chico Caenga, adir, Dãodinho, Bibí, Vicente e Francisco. As mulheres freqüentadoras do referido local, todas muito bem arrumadas vestidas de organdi, crepe, gabardine, etc. (tecidos da moda na época) e maquiadas com pó de arroz: tabu, promessas e o clássico cashimire bouquet e espalhando o cheiro dos embriagantes perfumes suspiro de granada, parisiana, revedor, lancaster que eram a coqueluche da época. O ambiente era estritamente familiar e freqüentado por moças das quais, Dona Isabel era uma espécie de dama de honra e zelava pela reputação e recato das mesmas que, formavam um grupo de pastoras do seu pastoril e eram as jóias que enfeitavam o seu salão de dança e, também, objeto de cobiça e sonho dos rapazes que as cortejavam e cavalheirescamente as acompanhavam nas danças. Os rapazes montados em seus sapatos cavalo de aço, vestindo calça boca de sino e camisa cacharrel.que fazia parte do figurino masculino.
          ...E o forró seguia ao som do quinteto denominado “Os cinco do nordeste” e o cheiro do insistente perfume no ar denunciava a presença feminina no recinto e misturava-se ao cheiro do suor dos corpos exalando o inebriante cheiro do amor; a essa altura os cavalheiros já faziam suas reticenciosas declarações de amor ao ouvido apuradíssimo da dama, que aos suspiros ouvia os galanteios. A anfitriã da festa estava no meio do salão tirando a cota dos cavalheiros e dançando no ritmo da valsa. Ela era uma exímia dançarina e de vez em quando dava uma canja mostrando seu talento na arte de dançar. De frente ao aludido local era de praxe se encontrar Dona Maria Cheiro Bom (in-memorian) vendendo sua galinha caipira torrada e seu churrasco de carne, além de se achar também outras iguarias como: cana-de-açúcar cortada em rodelas e enfiada em talos, pitomba, pipoca, pamonha, rosário de pipoca, macaúba, alfenim, rosário de coco de macaúba, coco verde, caldo de cana-de-açúcar, espigas de milho cozido e assado, algodão doce, jelé, além de outras guloseimas mais. Era o comércio alternativo dos eventuais e ambulantes que atraídos pelas pessoas que se concentravam no local vendiam seus produtos fortalecendo, assim, a chamada economia informal da cidade. No mês de junho Dona Isabel montava o seu arraiá junino que era composto de varias atrações como: pastoril, quadrilha, pau no cêbo, gato no pote e fazia a festa. Na semana santa os eventos seguiam toda uma temática com bases nas passagens bíblicas e o Judás era enforcado na quarta-feira e velado até o domingo de páscoa quando ás 18:00hs. era queimado. Todos os sábados, domingos e feriados o santuário da felicidade se enchia de pessoas que tinham objetivos comuns que era celebrar a vida no culto ao amor. O logradouro público que fica localizado de frente a casa de Dona Isabel ficou conhecido como “Beco de Isabel Viriço” (hoje é denominado Beco da Liberdade) e aproveitamos esse espaço para pedir aos órgãos competentes da municipalidade que em honra a memória daquela que dedicou 40 anos de sua vida na prestação de serviços a cidade, que revoguem a lei que instituiu a referida via pública nomeando-a como Beco da liberdade, para o seu nome original Beco de Isabel Viriço, como ficou conhecido ao longo dos tempos.
          Em 1950 Isabel Viriço juntamente com o seu esposo José Veríssimo, transformaram a sua residência numa casa de eventos. Numa época em que nem existia energia elétrica na cidade e os eventos aconteciam à base da piraca. Com competência a empresária da noite areia-branquense manteve seu estabelecimento comercial aberto e funcionando no mesmo local até o ano de 1990, quando por ocasião da sua morte o espaço foi fechado.
      Aleluia! Isabel Viriço não morreu, ela está bem viva na nossa memória e representa a felicidade daqueles que fazem da sua vida uma divertida e deliciosa razão de viver. Salve a  padroeira dos amantes da noite areia-branquense!
Edição do mês de julho/2010


Por Noamã Jagun

CRÔNICA: Isso é Uma Vergonha!

               Boris Casoy é conhecido pelo bordão “Isso é uma vergonha” que ficou famoso e popular no meio televisivo de tanto ser repetido pelo âncora do Jornal da Band, que sempre que denunciava algum dos inumeráveis escândalos ocorrido no meio da política nacional, ou em outros setores da nossa sociedade, usava a repetida frase como desfecho para suas explanações. Ocorre que vergonhoso mesmo foi ver esse intelectual da mídia brasileira fazer uma infeliz declaração nos bastidores da Rede Bandeirante, quando proferiu ofensas a garis que apareciam na edição de réveillon de seu telejornal noturno. A gafe foi cometida após o Jornal da Band mostrar imagens de garis desejando felicidades aos telespectadores da emissora em data de 31/12/2009. Sem saber que o áudio estava sendo transmitido, Casoy comentou: ”Que merda, dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras. O mais baixo da escala de trabalho”. Era intervalo e supunha-se que os microfones estivessem desligados. A notícia vazou e caiu na internet, chegando ao conhecimento do público. 
                  E a pergunta em questão é a seguinte: o que faz esse cidadão sentir-se tão superior a ponto de se referir aos garis com tão grado desprezo? Será pelo fato de ele ser o supra-sumo do jornalismo de uma emissora de última categoria? Entendemos que um trabalho, qualquer que seja, deve ser respeitado. Não é humilhante ser gari, são profissionais prestadores de serviços essenciais de limpeza urbana. Foi lamentável ver um profissional do nível do Boris manifestar-se de forma tão preconceituosa e, o pior, entretanto, foi o linguajar vulgar e abominável que usou e feito de forma tão gratuita e cruel, ferindo assim, a filosofia do jornalismo do país. 
                  Um profissional que sempre falou pela voz do povo, quando falava sobre igualdade, criticava o governo, etc., quanta hipocrisia... Como vamos acreditar nesse cidadão depois desse ocorrido fato? Da falha técnica até que entendemos, o que não entendemos é a falha ética acometida pelo jornalista que usou de uma concessão pública para infamar e humilhar trabalhadores. 
                 A sua fama de grande humanístico, vigia da moral de outrem e carrasco dos politicamente ilícitos, caiu por terra. Os garis foram colocados por ele a uma altitude rente ao chão quando se referiu á classe colocando-a no último lugar na escala e nós perguntamos em que lugar está o cidadão Casoy na escala dos valores humanos? Como podemos acreditar num profissional que do alto da sua capacidade jornalística desce ao ponto de zombar com a profissão de garis humilhando duas pessoas simples que naquela noite estavam cotadas como atrações do seu cansativo e repetitivo Jornal?  O direito a liberdade de pensar ele tem, desde que não use desse direito para ferir a dignidade de terceiros e, na qualidade de jornalista, ele deverá ser totalmente imparcial ao proferir seu comento. 
               O preconceito social é tão dissimulado quanto o preconceito racial e pessoas como Boris Casoy, disfarçadamente, defendia modelos de políticas públicas de promoção da igualdade social, lutando por causas que ele mesmo não acredita, pois se ele vê um gari como um ser inferior, como poderá defender modelos de políticas públicas igualitárias? O que se esperava dele era um apoio verdadeiro, e não oportunista, pois ele se valeu da oportunidade que tem na imprensa, para promover sua imagem de grande defensor dos direitos humanos, mas sua máscara, finalmente caiu.  
                Só esperamos que órgãos como a CUT - Central Única dos Trabalhadores e OAB – Ordem dos Advogados no Brasil, tenha se manifestado judicialmente e representado essa classe de proletários, movendo uma ação contra o jornalista Boris Casoy e a sua comparte Rede Bandeirante, punindo-os para que sirva de exemplo para outros que, porventura, ainda possam querer ousar ofender toda uma classe obreira, subestimando-a pela qualidade da profissão que ela exerce. 
                Só temos que nos envaidecer de termos um gari honrado e orgulhoso da sua cidadania. Para profissionais que trabalham em condições insalubres, os garis, certamente, nunca encontraram vírus tão potentes entre os detritos, quanto os contidos no conceito que o Senhor Mídia (ex dono da verdade) tem a respeito deles e, o direito que a classe tem ao adicional de insalubridade não a protege de tão nocivas bactérias sociais. Nós que fazemos o Jornal Informativo Axé em Noticias ficamos indignados diante de tão lamentável acontecimento por isso apresentamos o nosso protesto.
Edição do mês de junho/2010
Por Noamã Jagun


FALANDO SÉRIO: O Vigário e o Vigarista


Há grande diferença entre o vigário e o vigarista: vigário é o título de pároco, no uso popular e vigarista é o trapaceiro que passa o conto-do-vigário. O sacerdote, independente da religião a que esteja ligado, deverá obedecer a éticas concernente a hierarquia religiosa a qual pertença. No meio espiritualista candomblé e umbanda, no Brasil, existe uma grande camada de excelentes sacerdotes que vão desde os mais renomados de linhagem aristocrática até outros de origens mais humildes, todos respeitáveis senhores, defensores de uma religião que está alicerçada nas raizes afro, cada um inserido dentro das suas tradições e culturas. Todavia, existe também uma categoria de falsos-sacerdotes que são verdadeiros mercenários do meio espiritualista que se mantêm a custa da fé do povo que por pura ignorância, segue esses fictícios devotos. Há, entretanto, aqueles que entraram na religião e instantaneamente já lhes são outorgado o título sacerdotal por pura conveniência da casa a que pertencem, recebendo o cargo antes do tempo determinado e, esses pseudo-sacerdotes, gerarão outros dando seqüência a toda uma casta de pretensos pais e mães de santo. Quem está apto a abrir casa de orixá é quem tem missão e recebeu o chamado do orixá, contudo, a habilitação se dar quando se cumpri todo o período de obrigações ritualísticas necessárias, que qualificará o iniciado preparando-o para o cargo, salvos os casos em que o neófito já vem de outra tradição religiosa, onde já possui status de babalorixá/yalorixá sendo reconhecido pelo órgão federativo que rege as casas de cultos espiritualistas, com licença para exercer o sacerdócio, e o aval da comunidade em que está inserido, nesse caso o que ocorre é uma mudança de nação e adaptação da casa, sendo preservado o cargo que já trouxera, contudo, o título sacerdotal dentro da nação em que acabara de se iniciar só lhe será concedido, após o mesmo cumprir com o tempo de sete anos de obrigações. Lamentavelmente, tem também, um tipo presunçoso que se auto-intitula como feiticeiro e que está por aí ameaçando pessoas com seus feitos diabólicos, apresentando um ritual com bases no impressionismo e assumindo uma postura fundamentada no medo e esse nefasto é objeto de pavor para os desinformados, que muitas vezes movidos pelo pânico, os serve. Caro leitor, quando você se dirigir a uma casa de culto espiritualista, procure primeiro fazer uma análise da pessoa do chefe (a) dessa instituição: Veja qual a sua proposta religiosa, seu comportamento dentro do âmbito social em que vive se tem respostas para suas indagações, se seus argumentos são convincentes e inerentes a sua proposição. Procure ainda, ter acesso ao regimento interno do terreiro, verificando se as normas são legais e se você se encaixa nelas. Desconfie daqueles que no ato da sua chegada já lhe oferece cargos dentro da casa como passaportes para o advento e permanência sua na mesma; observe se existe um objetivo religioso no ritual proposto pela casa. Imagine caro leitor, você ir a um determinado terreiro em busca de ajuda espiritual, e se deparar com o quadro subseqüente: encontrar o corpo mediúnico dessa casa usando trajes escandalosos ou curiosos, ouvir cânticos insinuativos e com duplo sentido, observar pessoas acostadas por criaturas que se identificam como sendo encarnações do demônio, outros incorporando entidades femininas, de duvidosos encantos, com trajes extravagantes, fazendo gestos obscenos, usando um vocabulário de baixo escalão, fumando e bebendo em demasia, numa teatralização do mais baixo nível...? É muito fácil entender que esse culto (?) faz apologia ao diabo, a libertinagem, ao fumo e a bebida e onde está o sentido religioso da coisa? Deus estaria inserido nesse ritual? Com certeza não.  Deus está muito distante de lugares onde reinam esse tipo de baixa vibração espiritual. Ta longe também, desse pseudo-ritual ser confundido com um culto umbandista ou candomblecista de qualidade. Tem outros indivíduos que se apresentam como candomblecista sem nunca ter se iniciado no candomblé e para estes fica a seguinte observação: Candomblé não é para quem quer e sim para quem é. Muitos se vestem de baba/iyá, e se escondem por trás de uma máscara que lhe foi concedida pela Iyá internet e/ou babá Orkut. O mais importante num sacerdote do candomblé é, além de ter respaldo no respeitante a sua doutrina religiosa, ter axé e, axé não se encontra dentro desse emaranhado de fios que é a internet. Axé se conquista. Axé é mérito, é concessão, é dádiva, é soma, é a força propulsora. O axé está intrinsecamente ligado ao caráter da pessoa. Quem não tem um bom caráter, dificilmente terá axé. Um sacerdote sem axé é como um corpo sem alma.
Edição do mês de junho/2010
Por: Noamã Jagun

PERFIL: Homenagem ao babalorixá Antonio Cruz


                  Diz o adágio popular que “quem trabalha Deus ajuda e quem faz pela vida tem”. Um exemplo bem forte desse aforismo é o babalorixá Antonio Cruz, que começou a trabalhar precocemente aos oito anos de idade, quando se achou no encargo de ajudar os seus genitores o operário de salina Augusto Ferreira da Cruz e a dona de casa Maria Paula da Cruz, a dividir as despesas da casa, abrindo mão, assim, da sua infância, saindo da condição de menino para menino-homem, já tomando para si a responsabilidade de um adulto, na luta pela sobrevivência.  
                Antonio Cruz nasceu na cidade do Assu/RN, onde recebeu o batismo cristão na igreja católica de São João Batista, contudo, teve seu registro de nascimento oficializado no cartório aqui da cidade de Areia Branca. Foi criado no bairro Baixa da Maré onde residiu até alcançar a sua maioridade. Concluiu parte dos seus estudos aqui em Areia Branca, tendo especialização em técnico em contabilidade. 
                Em 1966 viajou para a cidade do Natal juntamente com o inseparável amigo José Jaime e lá fez curso de licenciatura em história. Renomado professor que lecionou em diversos estabelecimentos de ensino da rede pública municipal e estadual, tendo também dirigido três órgãos de ensino aqui na cidade e em expansão ao seu trabalho foi diretor e professor do Ginasial Acadêmico Municipal Sagrado Coração de Jesus, na cidade de Grossos, onde na referida cidade exerceu ainda o cargo de Secretário Municipal do MOBRAL. Participou do Simpósio sobre a Problemática do Nordeste em Mossoró. Foi defensor dativo com várias atuações em nosso município nos anos de 1963 a 1970. Foi juiz de paz na cidade de Grossos nos triênios de 1974 a 1976. 
               Em 1954 Antonio Cruz, por motivo de doença foi procurar cura para o seu achaque através da espiritualidade e obteve êxito quando chegou á casa do pai de santo Eurico Cabeceira (in-memorian) e se manteve sob os cuidados do mesmo até o ano de 1958, quando a partir de então foi para o Terreiro de Santa Bárbara (da famosa yalorixá Francisca Edwirgens), permanecendo lá até o ano de 1967, época em que se desligou do aludido terreiro e em parceria com o amigo José Jaime e sua irmã Francelina Cruz, fundaram o Centro Guias Unidos (hoje Centro Pai José de Aruanda), onde por muitos anos cumprira com sua missão como religioso.  Antonio Cruz tem filhos de santo espalhados por toda a cidade. 
              Sua primeira obrigação dentro dos princípios da doutrina espiritualista foi com o babalorixá Pai Leó, fechando o ciclo de obrigações e recebido o tão merecido cargo de babalorixá. Em outubro de 2007 Antonio Cruz passou para as águas de ketu, fazendo obrigações na cidade do Natal, com um dos mais bem conceituados babalorixá do estado o babá obá walé Melquisedec t’ Sangó, no Ilé Asé Dajó Obá Ogodó, fazendo parte hoje de uma das famílias de axé mais bem estruturadas e prósperas do Rio Grande do Norte, a Família Melquisedec t’Sangó. Sua casa de culto é denominada Ilé Asé Dajó Obá Aganjú e fica localizada no Conjunto COHAB nesta cidade. Aposentado, casado com a Sra. Luzia Cruz (iniciante no candomblé) com quem teve dois filhos Ícaro Cruz (iniciando no candomblé) e Igor Cruz (iniciado no candomblé), que são herdeiros do seu espólio material e espiritual.   
              Atualmente Antonio Cruz está escrevendo a sua autobiografia em prosa e verso e também um livro que fala sobre a história de uma Areia Branca que ainda não foi contada. Ficamos ansiosos e aguardando que essa obra seja difundida o mais breve possível, para que possamos fazer o lançamento da mesma em grande estilo e assim poder nos reportar a história dessa Areia Branca até então desconhecida por todos nós.
Edição do mês Junho/2010
Por: Noamã Jagun