Isabel Bezerra Avelino, mais conhecida pelo codinome de Isabel Viriço, foi uma das figuras mais tradicionais da cidade de Areia Branca, fazendo parte do nosso folclore e merecendo destaque na nossa página principal, como uma grande mulher que muito contribuiu para a cultura local. Seu nome é sinônimo de alegria. Ela fez o entretenimento de muitos areia-branquenses por cerca de 40 anos com a sua tradicional casa de show. Quem não se lembra ou nunca ouviu falar do inimitável Forró de Isabel Viriço? Daquela senhora simples, de baixa estatura, fisicamente frágil, mas com a missão de fazer a alegria daqueles que para fugir do intolerável da vida cotidiana, iam a sua casa para se divertir e lá encontravam uma realidade que era suportável.
...E o forró seguia noite adentro com Expedito Sanfoneiro acunhando no compasso da sua sanfona de ouro acompanhado pelos seus colegas Dinda, Zé da Batera, Chico Caenga, adir, Dãodinho, Bibí, Vicente e Francisco. As mulheres freqüentadoras do referido local, todas muito bem arrumadas vestidas de organdi, crepe, gabardine, etc. (tecidos da moda na época) e maquiadas com pó de arroz: tabu, promessas e o clássico cashimire bouquet e espalhando o cheiro dos embriagantes perfumes suspiro de granada, parisiana, revedor, lancaster que eram a coqueluche da época. O ambiente era estritamente familiar e freqüentado por moças das quais, Dona Isabel era uma espécie de dama de honra e zelava pela reputação e recato das mesmas que, formavam um grupo de pastoras do seu pastoril e eram as jóias que enfeitavam o seu salão de dança e, também, objeto de cobiça e sonho dos rapazes que as cortejavam e cavalheirescamente as acompanhavam nas danças. Os rapazes montados em seus sapatos cavalo de aço, vestindo calça boca de sino e camisa cacharrel.que fazia parte do figurino masculino.
...E o forró seguia ao som do quinteto denominado “Os cinco do nordeste” e o cheiro do insistente perfume no ar denunciava a presença feminina no recinto e misturava-se ao cheiro do suor dos corpos exalando o inebriante cheiro do amor; a essa altura os cavalheiros já faziam suas reticenciosas declarações de amor ao ouvido apuradíssimo da dama, que aos suspiros ouvia os galanteios. A anfitriã da festa estava no meio do salão tirando a cota dos cavalheiros e dançando no ritmo da valsa. Ela era uma exímia dançarina e de vez em quando dava uma canja mostrando seu talento na arte de dançar. De frente ao aludido local era de praxe se encontrar Dona Maria Cheiro Bom (in-memorian) vendendo sua galinha caipira torrada e seu churrasco de carne, além de se achar também outras iguarias como: cana-de-açúcar cortada em rodelas e enfiada em talos, pitomba, pipoca, pamonha, rosário de pipoca, macaúba, alfenim, rosário de coco de macaúba, coco verde, caldo de cana-de-açúcar, espigas de milho cozido e assado, algodão doce, jelé, além de outras guloseimas mais. Era o comércio alternativo dos eventuais e ambulantes que atraídos pelas pessoas que se concentravam no local vendiam seus produtos fortalecendo, assim, a chamada economia informal da cidade. No mês de junho Dona Isabel montava o seu arraiá junino que era composto de varias atrações como: pastoril, quadrilha, pau no cêbo, gato no pote e fazia a festa. Na semana santa os eventos seguiam toda uma temática com bases nas passagens bíblicas e o Judás era enforcado na quarta-feira e velado até o domingo de páscoa quando ás 18:00hs. era queimado. Todos os sábados, domingos e feriados o santuário da felicidade se enchia de pessoas que tinham objetivos comuns que era celebrar a vida no culto ao amor. O logradouro público que fica localizado de frente a casa de Dona Isabel ficou conhecido como “Beco de Isabel Viriço” (hoje é denominado Beco da Liberdade) e aproveitamos esse espaço para pedir aos órgãos competentes da municipalidade que em honra a memória daquela que dedicou 40 anos de sua vida na prestação de serviços a cidade, que revoguem a lei que instituiu a referida via pública nomeando-a como Beco da liberdade, para o seu nome original Beco de Isabel Viriço, como ficou conhecido ao longo dos tempos.
Em 1950 Isabel Viriço juntamente com o seu esposo José Veríssimo, transformaram a sua residência numa casa de eventos. Numa época em que nem existia energia elétrica na cidade e os eventos aconteciam à base da piraca. Com competência a empresária da noite areia-branquense manteve seu estabelecimento comercial aberto e funcionando no mesmo local até o ano de 1990, quando por ocasião da sua morte o espaço foi fechado.
Aleluia! Isabel Viriço não morreu, ela está bem viva na nossa memória e representa a felicidade daqueles que fazem da sua vida uma divertida e deliciosa razão de viver. Salve a padroeira dos amantes da noite areia-branquense!
Edição do mês de julho/2010
Por Noamã Jagun
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