sexta-feira, 5 de abril de 2013

Origem da Religião de Matriz Africana em Areia Branca



 Areia Branca é uma pequena cidade litorânea do oeste potiguar. Está localizada a 47 km de Mossoró e 330 km da capital do Estado do Rio Grande do Norte. A cidade é como uma ilha, pois está cercada de salinas e gamboas por todos os lados. Situada na margem direita do rio Mossoró, a oeste do seu território, ao norte, está limitada a vastidão do Oceano Atlântico. O único acesso por terra até Areia Branca é a BR-110 que a liga a cidade de Mossoró. Seu território possui atualmente 374 km2 e sua população, segundo os dados do último censo, é de 25.736 habitantes. As primeiras incursões no território onde hoje está situada a cidade ocorreram por volta de 1604 pelos portugueses e mais tarde, em 1641 pelos holandeses, ambos atraídos pelos extensos depósitos de sal por salinização natural nessa área (CASCUDO: 1955). Com a seca de 1877, uma legião de flagelados invadiu a ilha de Maritacacas ou Ilha das Areias Brancas, topônimos primitivos do lugar, passando assim a povoá-lo. Areia Branca pertenceu à cidade de Mossoró até 1892, ano em que foi constituída como vila e sede de município, e somente em 1927 foi elevada sua condição de cidade (FAUSTO: 1978).
                 A origem das manifestações religiosas em Areia Branca dar-se como em muitos lugares do Brasil, através de missões católicas. No dia 1º de abril de 1916, foi criado o Centro Apostolado da Oração por um bispo Diocesano da cidade de Natal, chamado Dom Antonio dos Santos Cabral, numa de suas visitas pastorais corriqueiras na então vila. Em setembro de 1919 a paróquia foi instituída em Areia Branca, desmembrando-a da freguesia de Mossoró e transferindo a pequena capela de Nossa senhora da Conceição, atual padroeira da cidade, para a categoria de igreja matriz (idem: 1978). Segundo o escritor areia-branquense Deífilo Gurgel (2002), somente após a década de 1930, outras formas de religiosidades foram constatadas na cidade, a saber, uma única casa de culto protestante existente nesse período em Areia Branca, dirigida por um seguidor de Lutero chamado Antônio Saraiva de Moura, conhecido como Antônio do Mouco. Este era natural de Portalegre-Rn e residia em Areia Branca. Não consta a informação de qual era a denominação protestante professada pelo mesmo.              
                    Já os cultos afro-brasileiros, de acordo com a história oral, surgem na cidade por volta da década de 1940. Nenhuma literatura ou registro escrito sobre esses cultos em Areia Branca durante esse período foi encontrado. Nem mesmo nos documentos históricos culturais, disponíveis na prefeitura da cidade existe alguma notícia. Numa recente monografia escrita sobre a umbanda na cidade, o autor José Edison S. Ferreira, relata como essas religiões surgiram na cidade a partir da fala de seus entrevistados. Como havíamos comentado, toda e qualquer notícia da origem dos cultos afro-brasileiros em Areia Branca é proveniente da história oral, pois não existe qualquer documento sobre tal fato. Em pesquisa realizada pela Antropóloga Eliane Anselmo feita com adeptos antigos dessas religiões para contar como os cultos afro-brasileiros surgiram na cidade, muitos diziam não lembrar ou não saber com certeza. O saudoso escritor/historiador e também pai de santo de umbanda Sr. José Jaime Rolim, a quem todos apontavam como o melhor informante para essa questão, foi um dos que mais contribuiu no sentido de elucidar o nascimento de tais práticas religiosas em nossa urbe. O saudoso pai de santo de Umbanda José Jaime Rolim fala como foi o surgimento dessas religiões na cidade e segundo o mesmo a religião de matriz africana veio para Areia Branca, a bordo dos a  vapor que vinham em busca do nosso produto maior que era o sal. foi através da via marítima né? Quer dizer, vapozeiros que eram pais de santo na Bahia, no rio, em outros Estados da federação, eles vinham nos navios aqui para Areia Branca e, Areia Branca na época não tinha esse porto hoje, então demoravam os
                                      


navios a embarcar o sal. Existiam deles que chegavam a passar aqui até um mês. Então esse tempo que eles passavam aqui era em terra, e aqui eles procuravam a casa de uma pessoa conhecida indicada por um estivador, por um salineiros e ali eles trabalhavam. Como é o caso do seu Oscar, considerado, chamado aqui de menino de ouro, um dos maiores pais de santo que aqui já teve; João Teles... Baiano, inclusive um dos maiores pai de santo que aqui já teve. Isso na década de quarenta. Foi mais ou menos em quarenta e oito, a quarenta e nove, a cinqüenta que eles começaram a vir por aqui. Então daí começou essa origem desses trabalhos[1]


Fonte: Dra. em Antropologia Eliane Anselmo



[1] Entrevista cedida no dia 21 de setembro de 2004.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012



                  

PROGRAMAÇÃO DA FESTA DE YEMANJÁ 2012
29/12 – 7º Encontro Cultural – Encontro da Mulher
Tema: “A Violência Contra a Mulher”
Construção social e não litúrgica
Local: Plenário da Câmara Municipal
Horário: 19:00hs.

30/12 – Siré Campal (Culto aos Orixás)
Cerimônia Pública Religiosa
Local: De frente a sede do Ilé Asé Dajó Ìyá Omí Sàbá sito á Rua Duque de Caxias - Centro
Horário: 19:00hs.

31/12 – Cortejo de Yemanjá  - Entrega do Presente de Yemanjá
Tema: Yemanjá, a Senhora do Mistério Maternal
Caminhada pelas ruas da cidade
Concentração: De frente à sede do Ilé Asé Dajó Ìyá Omí Sàbá com destino ao Cais Tertuliano Fernandes onde haverá embarque em balsas fluviais pelo Rio Yvipanim para entrega do Presente a Mãe D’água.
Horário: Saída: 15:30hs.
Observação: Após a entrega do Presente de Yemanjá será feito uma caminhada de volta ao Ilé Asé Dajó Ìyá Omí Sàbá com o AFOXÉ AMIGOS DO AXÉ, fazendo, assim, o encerramento do evento.
                       

Venha comungar do nosso axé!

sexta-feira, 25 de março de 2011



Em junho do ano de 2008 lancemos o jornal Axé em Notícia  numa iniciativa do Ilé Asé Dajó Ìyá Omí Sàbá (Casa da força/energia e justiça da mãe das águas Yemanjá Sàbá), que é uma casa de cultos afro brasileiros (candomblé) fundada em 27 de setembro do ano de 1992 aqui na cidade de Areia Branca/RN. Fomos pioneiros em nível de estado do RN no tocante a essa questão de um terreiro de candomblé publicar um diário e entrar na mídia expressa. Nosso objetivo era propagar a nossa religiosidade, fazer um resgate das nossas tradições culturais, homenagear ícones da religião de matriz africana que vivia no anonimato, lutar pela preservação das velhas tradições deixadas pelos nossos ancestrais, além de prestar serviços de utilidade publica a nossa querida Areia Branca. Estamos postando no blog algumas matérias que foram publicadas em anos anteriores para que o leitor possa ter acesso ao nosso trabalho.

PERFIL: Homenagem a yalorixá Maria Pinheiro

                        Em 27 de setembro do ano de 1992, Maria Pinheiro, aos 65 anos de idade decidiu transformar a sua casa residencial em uma casa de cultos religiosos. Ela já vinha a alguns anos ligada à religião de matriz africana, tendo ocupado o cargo de mãe pequena (segundo cargo dentro da hierarquia de um terreiro) numa das casas de culto mais tradicionais da cidade: a casa que pertencera á yalorixá Francisca Andrade de Souza (conhecida como mãe Tiquinha d’Omolu – in memorian), exercendo esse cargo e, ao se desligar do aludido terreiro passou a dar assistência espiritual em sua moradia onde atendia pessoas que davam credibilidade aos seus serviços incorpóreos.
                           O tempo foi passando e Mãe Maria continuou com seu ofício religioso de dar atendimento àqueles que buscavam ajuda espiritual através da sua pessoa, contudo, o espaço que dispunha para realizar tais ritos era muito pequeno e sem cômodo, surgindo daí a idéia de ampliar esse espaço e formar uma espécie de agregação espiritualista e partindo desse princípio nasceu a Irmandade do Reino de Yemanjá Sòbá (Ilé Iyá Olokun Asé Ìyá Sobá), cuja prática ritualística era o culto a nação nagô, herdado do babalorixá Pai Nino da Mustardinha.
                         Nos biênios de 2002 á 2004 adaptou sua casa á nação angola, já que o culto ao nagô aqui em Areia Branca e em nível de estado do Rio Grande do Norte estava em fase de extinção e, para dar seguimento a casa dentro de uma doutrina candomblecista, amoldou seu cerimonial a nação angola através da Yalorixá Lúcia Edjan de Lima Pipoca (Lúcia de Óyá Karasí d’Mãn) vinda da cidade do Guarujá/SP. Mas a convivência com essa sacerdotisa durou pouco por razões que prefiro omitir por motivos que não vêem ao caso,  havendo a quebra de vínculos com a mesma, bem como abrindo mão da doutrina espiritualista advinda dela. Em julho de 2004 encontrou por meio do babalorixá Melquisedec da Rocha (Melquisedec t’Sangó) a pessoa certa para cuidar da sua ori (cabeça espiritual), sendo este, desde então, o seu zelador espiritual e orientador, sacerdote mor da sua casa de axé, o Ilé Asé Dajó Ìyá Omí Sàbá, adaptado a nação ketu raiz do Asé Gantois.
                       Maria Pinheiro é responsável pela vinda do culto aos orixás de candomblé, bem como a introdução da nação ketu raiz Gantois aqui na cidade de Areia Branca, quando abriu as portas da sua casa de axé para dar entrada a esse rito sagrado advindo do solo fértil da nossa mãe África para fertilizar o solo salgado dessa salinésia que é Areia Branca.
                     Mulher forte que sabe o que quer e luta pelos seus ideais. Mulher perseverante que acredita no que faz e faz o melhor que pode em prol da sua religião e da cultura afro brasileira.
                    Hoje ao longo dos seus 83 anos de idade Mãe Maria de Yemanjá Sàbá ainda encontra forças para lutar pela preservação do culto espiritualista na missão que Deus lhe confou.
Publicada na primeira edição do Jornal Axé em Noticia em junho/2008.
Por Noamã Jagun

PERFIL: Homenagem a yalorixá Francisca Edvirgens



                 Falar a respeito de Dona Edvirgens é fazer uma viagem no tempo; é fazer um resgate da historia da religião espiritualista na cidade de Areia Branca e reportar a um passado cheio de muita luta. Ela na verdade é o arquivo vivo dessa historia e sua historia se mistura á historia de sua religião e forma uma linda historia de amor. 
                       Nós que fazemos o Informativo Jornal Axé em Notícia, sentimo-nos honrados por prestar tão justa homenagem a essa verdadeira “Lenda Viva” que é a Yalorixá Francisca Edvirgens de Yansãn. 
                       Quem nesta cidade nunca ouviu falar dos seus feitos? Da sua luta em prol da religião? Dos seus 68 anos de contato direto com o culto espiritualista? De todos os serviços que ela tem prestado a nossa cidade? 
                   Francisca Edvirgens com 16 anos de idade, em plena adolescência, começou a dar os primeiros passos na vida religiosa. Ela passou por muitas dificuldades, mas superou tudo e no meio a tantos obstáculos que ela encontrou no seu caminho, nada a impediu e seguir em frente na busca pelo seu objetivo.  E foi numa dessas incessantes buscas que ela conseguiu se iniciar nos caminhos da religião que professava através do conceituado e famoso pai de santo “Padrinho Zé Bruno” na cidade de Nazaré/Ma e daí continuou cumprindo com suas obrigações espirituais. 
                  Uma das mais belas imagens que trago guardado comigo é Dona Edvirgens acostada pela entidade/mestre Zé Pelintra, cantando e dançando coco de embolada. É uma maravilha! 
                  Ela é a grande matrona da religião espiritualista de umbanda em nossa cidade e, foi do ventre imaterial dessa venerada mãe que foram gerados grande parte do povo de santo e sacerdotes da nossa tão querida Areia Branca.
              Assim como seu orixá Yansãn (palavra que significa em língua portuguesa “Mãe dos Nove Céus”), dona Edvirgens tem filhos de santo espalhados por toda parte da cidade, pelo estado e outras partes do Brasil. Seu terreiro é o mais antigo da cidade (O Tradicional Terreiro de Santa Bárbara), que conta com mais de 40 anos de funcionamento. 
  O Terreiro de Santa Bárbara se                                                                                                                                                  expandiu, formando outros terreiros e a doutrina de Dona Edvirgens serve de bases para muitos que a admira e dão credibilidade á mesma.   Sábia                                                                                                                                                                          Sábia mulher de riso fácil e pulso forte, que tem dirigido sua casa durante quase meio século com competência e dignidade.   
       Salve! Oh, grande dama da sociedade espiritualista do meu lugar!     
Publicada na primeira edição do Jornal Axé em Noticia em julho/2008.                                         
Por Noamã Jagun

PERFIL: Homenagem ao babalorixá José Jaime Rolim



                       É gratificante homenagear uma pessoa que tanto contribuiu para formação quanto para a divulgação da nossa história da qual é protagonista; Um dos maiores sacerdotes do culto á Umbanda da nossa terra; professor, escritor, historiador. Um homem de memória invejável que descreve a Areia Branca dos tempos de outrora e sabe o nome de cada rua, de cada praça, de cada monumento, como também conhece cada morador da época com seus nomes e alcunhas.  Um exímio conhecedor de causos que aconteceram na salinésia; homem que sempre esteve à frente do seu tempo; de longa visão; de inteligência privilegiada; é esse o perfil do homenageado do mês o pai de santo José Jaime Rolim.  Zé Jaime como é conhecido por todos, iniciou-se aos 16 anos de idade nos caminhos da espiritualidade em tempos que pra ser umbandista era preciso ter realmente vocação e coragem para enfrentar as duras doutrinas disciplinarias que eram impostas pela religião aos seus adeptos. Mas ele não se limitou apenas em seguir os penosos preceitos religiosos que lhe foram impingidos, por ter uma visão futurista sonhou em galgar novos horizontes em busca de respostas para suas indagações; e foi buscando respostas que ele tirou suas dúvidas e trouxe propostas para a nossa cidade. Quando viajou para a cidade do Natal com objetivo de estudar, lá conheceu uma nova realidade sobre a religião tendo acesso ao que melhor existia no meio umbandista daquela época.  Zé Jaime foi iniciado espiritualmente com o Pai de Santo Luiz de Cordeiro e Pedro Medeiros de Souza – Pedrinho professor (in-memórian). Filho de Xangô com Oxum orixás guardiões da sua cabeça, sua filiação espiritual.  Estudou no Colégio Isabel Gondin em 1958 em Natal onde fez o curso básico de contabilidade. Cursou ciências físicas, químicas e biológicas na antiga Faculdade de Filosofia também em Natal. Em Areia Branca concorreu a 6 mandatos eletivos de 1962 á 1982 obtendo expressa votação durante esses pleitos eleitorais. Foi presidente da câmara de vereadores por 2 vezes e foi prefeito interino no período de 11 de agosto á 10 de setembro do ano de 1987. 
                    Foi diretor da extinta Escola Técnica de Comércio - Centro Educacional Desembargador Silvério Soares – E.E. Cônego Ismar Fernandes – E.M. Vingt Rosado – E.M. Pereira Carneiro. 
                    Fundou seu terreiro em 1969, o Centro Espiritualista de Umbanda Pai José de Aruanda onde até os dias de hoje continua cumprindo com a missão espiritual que Deus lhe outorgou. Quando o redator deste jornal perguntou a Zé Jaime o que significava para o mesmo ser um umbandista, ele humildemente respondeu: “É cumprir uma missão espiritual a qual devemos ajudar os nossos irmãos materiais e espirituais”.
                 Zé Jaime já completou 54 anos de iniciação nos caminhos da umbanda. O ritual praticado na sua casa se distingue das demais por ser uma umbanda esotérica e a única na cidade que contem elementos e praticas do Terecô, (denominação dada à religião afro-brasileira tradicional de Codó no Maranhão, derivada do tambor-de-mina semelhante à umbanda).
Homenagem feita na primeira edição do Jornal Axé em Noticia em agosto/2008
Por Noamã Jagun

PERFIL: Homenagem póstuma a yalorixá Francisca Andrade de Souza



                    Francisca Andrade de Souza ou Mãe Tiquinha, como era conhecida por todos, foi uma das importantes sacerdotisas da religião de matriz africana em Areia Branca. Sua casa era freqüentada por pessoas de todas as partes do estado que vinham em busca de ajuda espiritual. Alegre, acolhedora, gentil, ela recebia todos de braços abertos, sempre com um clássico sorriso nos lábios. 
                   Mãe Tiquinha possuía o arquétipo das mulheres fortes que luta pelo que quer e que não foge dos combates. Venerada pelos seus filhos de santo e por todos que a conheciam.
              Proclamada como grande yalorixá da nossa tão querida terrinha, ela foi responsável juntamente com o seu esposo José Pedro (in memorian) por trazer o culto nagô para a salinésia, desta feita quando se iniciaram na nação dos Egbá, através do babalorixá Heleno Medeiros de França mais conhecido como Pai Nino da Mustardinha (in-memorian). 
             Ela sempre carregou a bandeira da sua religião com o orgulho de ser uma sacerdotisa do culto ao orixá. Ousada, aberta as mudanças e as convenções, apesar do pouco grau de escolaridade que tinha, mas detentora de um nível de intelectualidade excepcional. Uma mulher que tinha o coração maior que o próprio corpo, caridosa, incapaz de negar ajuda a quem a procurava.  Mãe e amiga de todos os seus filhos, mas também austera quando estes procuravam fugir da doutrina aplicada por ela. Filha de Omolu com Yansãn e Mestra no culto da jurema sagrada.  
               Sua vida foi interrompida por um trágico acidente automobilístico ocorrido no dia 9 de setembro de 1992. Foi um dia nefasto na história de Areia Branca. A cidade foi surpreendida com a notícia do acidente e morte da grande Iyá que partiu deixando saudades aos seus familiares, seus inúmeros filhos de santo e amigos. Ela se foi, mas deixou um expressivo espólio religioso, além memoráveis lembranças da sua passagem aqui pela terra. Sua missão acabou aqui no mundo das formas físicas, mas, continuou no mundo da luz onde brilhará e iluminará a todos os filhos que aqui deixou na orfandade espiritual. 
                 Sua casa não teve continuidade porque o seu herdeiro e filho biológico Pedro Neto não se encontrava em condições de assumir tão elevado cargo, por isso abdicou do mesmo, lamentavelmente, fechando as portas da casa. Durante o Asese (ritual fúnebre), foi dado caminho a todos os fundamentos da casa de Mãe Tiquinha, bem como sua família de orixá, com exceção apenas de Omolu que era o orixá dono da sua ori, que não quis caminhar para natureza, mas, sim, queria ser cultuado e ficou sendo criado por um filho da casa que a partir de então passou a zelar pelo mesmo em um cômodo construído em sua residência. Contudo, o orixá passou menos de um ano sob o zelo de Paulo Cesar que, impossibilitado de continuar a prestar culto ao orixá ofereceu-o a casa de Yemojá Sàbá, onde continua até os dias de hoje a ser venerado. 
                    Lamentamos que casa como a de Mãe Tiquinha tivesse sido fechada.  Um tesouro que foi enterrado junto com o cadáver dela, o resultado de todo um trabalho feito ás custas de muito suor, muito sacrifício e muito amor. A sua casa de axé ainda era pra estar em pleno funcionamento ou, pelo menos que tivesse sido transformada num museu onde sua historia pudesse ser contada. 
                Guardo no meu baú de memória a imagem de mãe Tiquinha acostada pela bela, arrebatadora e fascinante Yansãn, num momento de rara beleza e essa imagem levarei para o túmulo quando minha missão acabar aqui na terra.
           “Oh, grande mãe, você partiu me deixando saudades; saudades dos ensinamentos que você nem teve a oportunidade de me oferecer em vida; saudades do convívio que na realidade não tivemos; saudades de tempos que nem existiram de fato, mas que estão bem guardados no meu subconsciente (...)”.  Mãe receba essas honras postumárias, escrita por este humilde redator que lhe pede sua benção!
Homenagem publicada na primeira edição do Jornal Axé em Noticia em setembro/2008
Por Noamã Jagun