quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

FALANDO SERIO: Orixá: Guardião ou Algoz?


           No meio espiritualista Candomblé e Umbanda a filosofia dominante pra muitos praticantes dessas religiões, é a de que o devoto tem que andar na linha sempre vigiado pelos atentos olhos da divindade ou entidade que o rege, não permitindo essa, que ocorra nenhum deslize por parte do fiel, que corre o risco de ser punido por qualquer falha cometida, a qualquer momento.
         Eu, que vos escrevo quero explanar minha opinião, como iniciado no candomblé: o termo orixá vem do yorubá (de origem africana) e significa em língua portuguesa “Guardião de Cabeça”. O meu orixá é o guardião da minha cabeça espiritual (ori), é minha natureza interior, minha identidade espiritual, é a ligação entre mim (criatura) e Deus (criador). Esse ser me rege, está de modo intrínseco contido em meu ser. É uma luz que me ilumina, que me mostra sempre o melhor caminho e me protege.  O orixá não me prende, não sugere amarras. É aquele que me compreende e não interfere no meu arbítrio. Não o tenho como um tirano cruel que faz do meu erro o seu júbilo realizando o seu sadismo através das minhas falhas. Eu jamais iria consagrar em meu ser um ser superior para me castigar, me julgar, me humilhar. O ser que me gere conhece as minhas qualidades e meus defeitos também, pois sou uma criatura feita de carne, osso e sentimento e não um super herói acima das coisas que são inerentes a minha condição humana, pois, se fosse um super herói, não precisaria de um ser superior para guiar meus passos, mas sim, voaria feito um pássaro pela imensidão do universo, servindo de guia para aqueles que ainda estavam ligados a uma forma de vida remota aqui na terra.
               É difícil mudar toda uma forma conservadora de pensar e agir, mas discordo daqueles que dizem que o orixá nos faz cobranças, que devemos saciar sua fome, presenteá-lo sempre para agradá-lo e evitar que ele se irrite conosco e volte-se contra nós. Eu acredito sempre num Deus de amor e também, não acredito que um orixá que é pura energia da natureza, que nunca possuiu uma forma física ou vida na terra, possa sentir fome.  Na verdade a fome é nossa, existe uma necessidade de dar satisfações através de alimentos sagrados a estes seres, mas entendendo que a fome é nossa e não deles. Vai alimentar o nosso “eu” interior e nos manter em harmonia com a nossa divindade, mas é preciso que se expliquem as coisas.
                Nós, filhos de orixá o que devemos fazer é cumprir com nossos preceitos religiosos e estar sempre em harmonia com a nossa energia interior, ter respeito pelo nosso corpo que é morada do nosso orixá, pois, caso contrário, poderemos sofrer as conseqüências advindas dos nossos atos, não que o orixá vá nos castigar (ele não é um carrasco), mas nós mesmos que quando entramos em desarmonia com a nossa essência (Orixá), em contrapartida, sofremos as conseqüências ocorridas das nossas ações.
              Precisamos assumir nossas falhas e não atribuir-las ás nossas divindades ou ao acaso. Temos a liberdade de viver segundo nossas escolhas e se fizermos uma escolha errada, devemos ter a humildade de admitir os nossos erros e nos prepararmos para novos acertos.
              Do meu livre arbítrio posso fazer o que quiser, mas, conseqüentemente, responder por tudo que fizer, pois, a Lei da Ação e Reação é inexorável. Toda força emitida contra um determinado ponto, retorna ao seu ponto de origem para que seja retomado o equilíbrio original, portanto, todo feitiço é bumerangue perseguindo o feiticeiro.
Por Noamã Jagun
Edição do mês de setembro/2010

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